domingo, 20 de maio de 2012

Competição desleal


Eles, certamente, eram o time menos temido das semifinais. Técnico novo demais, esquema velho demais, os protagonistas de sempre. Tudo para continuar dando errado, como há quatro anos.

Será?

Não. Desta vez deu tudo certo. Tudo impressionantemente a favor.

O campeonato começou a ficar com a cara do Chelsea quando o Messi perdeu aquele pênalti. Mais do que um ferrolho bem armado, jogadas de bola parada e contra ataques eficientes, eles estavam encantados, abençoados, com sorte, chamem do que quiser. Sorte que fez Messi não ser tão Messi por dois jogos, que fez Robben perder pênalti, que fez um Ramires gelado e decisivo pra fazer um golaço de cobertura em pleno Camp Nou. Sorte que fez um Drogba mais guerreiro do que nunca, que fez questão que ele não saísse vilão, mesmo ele fazendo dois pênaltis nos dois jogos finais.

Vocês devem lembrar que, na semifinal, o Barcelona perdeu um caminhão de gols em Londres, e outros tantos em Barcelona. Sobre a final, só o Mario Gomez perdeu uns três.

O jogo poderia se estender por horas, dias, não teria jeito. Na hora agá, eles resolveriam tudo. O futebol deles não é o mais bonito, não tem os craques das propagandas, fez questão de só  se defender, antifutebol mesmo, com a cara e a coragem! Mas eles estavam abençoados.

E quem pode contra a sorte? Como competir contra a sorte? Aliás, como viver sem ela?
Como diria Nelson Rodrigues, sem sorte não se pode nem chupar um picolé!

A Champions deste ano estava predestinada a ficar em Londres, a ser azul!
Portanto parabéns ao Chelsea! O Campeonato ficou com quem tinha que ficar.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Racionais


Sobre o gol anulado do Vasco, contra o Corinthians, afirmo o seguinte:

·         -Vi o tira-teima da Fox
·         -Vi o tira-teima da globo
·        - Na minha visão, houve impedimento

Hoje não debaterei o  lance em si. Muito complexo, o impedimento foi milimétrico e acredito que o bandeira tenha tido sorte em acertar. E, mesmo que eu esteja errado, portanto sendo legal a jogada, acho covarde crucificar um arbitro num lance que, com replay e imagens mil, ainda temos dúvida sobre o que houve.
O que me chama a atenção é essa teoria da conspiração dos torcedores vascaínos, essa postura ridícula de sempre achar que é o prejudicado, essa absurda tese de que a Globo manipulou o replay, de que a Globo  é a favor do Corinthians.  

Qual é a dificuldade de aceitar que foi um lance de difícil interpretação?
E essa é uma postura que está se tornando comum nos torcedores de futebol. Muita gente tem um certo prazer em ver um erro de arbitragem contra seu time para justificar um resultado negativo, para ter um bom argumento numa possível derrota ou para honrar ainda mais a vitoria em potencial:

“ E JOGANDO CONTRA DOZE HEIN!!!! “

E o pior é ver o Roberto Dinamite, em vez de trabalhar pra tentar resolver, para minimizar influências de arbitragem dentro do campo de futebol, ficar questionando-a depois do jogo. Depois a força jovem vai pra São Paulo cheia de morteiro dentro do pau do bandeirão fica todo mundo puto, chamando os caras de revoltados sem causa!
Enfim, uma bagunça geral, uma briga de homens das cavernas. O Filé, cachorro do meu pai, certamente é mais educado do que todo mundo que eu citei no texto até agora.
Ai eu saio com a camisa do Barça, falo que me empolgo mais com a Liga dos Campeões do que com o Brasileirão, do que com Libertadores, sou tachado de maluco, antipatriota, baba ovo de europeu...

É  mole?

terça-feira, 1 de maio de 2012

Vida e obra

Por André Kfouri


Se Pep Guardiola não ganhar mais nenhum jogo em sua carreira, não importará.
Claro, importará para ele, que terá de sobreviver com as dúvidas existenciais e a respeito da própria capacidade. Que se perguntará se o Guardiola do Barcelona e o dos outros clubes é o mesmo treinador. Que, no fim, lembrará de seu período no Camp Nou com a mesma sensação que temos quando acordamos no meio da noite impressionados com um sonho bom, mas irrecuperável.
Importará para os pragmáticos, os conservadores, os medrosos. Sejam quem forem e estejam onde estiverem. Para os ressentidos, os humilhados, os deprimidos. Que se rendem à antipatia sem sentido, ou ao preconceito mal informado. Para os míopes, os insensíveis, os alienados. Que enxergam, mas não veem.
Importará para seus futuros empregadores, que comprarão sem receber. Para seus futuros jogadores, que estudarão sem aprender. Para seus futuros torcedores, que sofrerão sem vencer. E para seus futuros detratores, que falarão sem saber.
Importará para seus colegas, os bons e os nem tanto. Os bons lamentarão a ausência de um virtuoso, que fez da profissão de técnico de futebol um ambiente em que a criatividade, a ousadia e a fidelidade ainda encontram espaço. Um professor que não se vê merecedor de tal honra, que entende o jogo como entende a vida, caminhos que não valem a pena sem valores. Os bons, os bons de verdade, perderão alguém com quem se comparar, alguém para imitar, alguém para superar.
Os nem tanto se deliciarão com o alívio. A mediocridade os salvará. O fim de cores inalcançáveis aumentará o valor conferido ao cinza nosso de cada dia. Será o triunfo da insipidez, a consagração da nota 6. Melhor ainda, será o argumento que faltava para se deslumbrarem com o que definitivamente não são. Pois eles serão os primeiros a distanciar Guardiola deste Barça, como se um time assim pudesse existir sem um técnico. Baterão no peito e dirão “com aquele timaço, até eu”. Só não terão coragem para fazê-lo em público.
Importará aos infelizes para quem os espetáculos devem se restringir aos teatros e casas de óperas. Que pensam que o resultado final é o que nos define, e não a forma como o buscamos. Que ignoram que respeito se conquista com postura. Que são incapazes de receber as vitórias com classe, as derrotas com gentileza, as oportunidades com gratidão.
Importará para os que não gostam da bola, não são obcecados pelo passe, não acreditam que uma equipe deve se mover pelo gramado como se fosse uma única composição. Importará para os viciados em linhas de quatro, de oito, de onze. Importará para os que não entendem que filosofia de jogo não é uma receita para vencer, mas uma forma de se expressar. Importará para os egocêntricos e os egoístas. Os presunçosos e os pretensiosos. Os perdidos e os iludidos.
Mas para quem percebeu o que ele ajudou a construir nas últimas quatro temporadas, se Pep Guardiola não ganhar mais nenhum jogo, não importará. Em mais cem anos, provavelmente não haverá nada parecido.