quarta-feira, 21 de março de 2012

Chico Buarque (estreando na Pauliceia) e Pelé

Eu precisava dividir isso com quem ainda tem o saco de me ler.
Eu precisava guardar isso pra mim, pra sempre!!!


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Por LUIZ GUILHERME PIVA

Num encontro entre os dois, o Chico Buarque perguntou ao Pelé se ele sonhava e com o quê ele sonhava. “Porque”, explicou Chico, “eu sempre sonhei em ser o Pelé!”.
A música nunca foi o forte do Rei, mas ele fez suas tentativas. O Chico talvez não jogue bem, mas usou muito o futebol nas letras de suas canções.
Há uma aproximação entre futebol, poesia e música.
Diz-se de um grande time que ele joga por música, de um grande jogador que ele é pura poesia, de um grande compositor que ele é um craque. Ou que bate um bolão.
Mesmo nas escalações dos grandes times, há uma métrica quase natural na sua escansão, formando versos que lembram frases melódicas.
Grandes meio-campos formam redondilhas – que são os versos de sete sílabas, imensamente predominantes na poesia, na música e mesmo na fala.
Piazza e Dirceu Lopes. Dudu e Ademir da Guia. Pintinho e Rivelino. Falcão e Carpeggiani. Andrade, Adílio e Zico. Dinho, Cerezo e Raí.
E os grandes ataques formam alexandrinos, que são os versos dodecassílabos, muito usados em sonetos. São considerados nobres e de difícil construção.
Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo. Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino.
Mas há ainda o alexandrino clássico, considerado o mais difícil de ser construído, por suas regras restritivas.
Ele exige que a acentuação tônica recaia sobre a sexta e a décima-segunda sílabas.
Exige também que o final da primeira parte (seis sílabas), chamada de primeiro hemistíquio, ocorra em oxítona ou em vogal.
E exige que cada hemistíquio tenha seu sentido autônomo.
Pois bem. Há um ataque destes. Que atende a todas essas regras. E que, se existisse, talvez fosse de fato o melhor ataque da história do futebol brasileiro.
Mané, Didi, Pelé, Pagão e Canhoteiro.
Como nos três anteriores, Pelé está neste ataque alexandrino clássico.
E quem o escreveu, como letra de canção, foi o Chico Buarque.
Que, aliás, bate um bolão.

Fonte : http://blogdojuca.uol.com.br/2012/03/chico-buarque-estreando-na-pauliceia-e-pele/

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